Você sabe quem faz a nossa newsletter? Ela é organizada mensalmente pela nossa equipe de comunicação, com a contribuição mais que fundamental de colaboradores que se debruçam sobre os dados para criar as análises incríveis que trazemos periodicamente para vocês. Na última edição, por exemplo, foi a Thais Filipi, analista de formação técnica na BD, que mergulhou nos dados do CAGED para explorar as desigualdades de remuneração no Brasil.
Nesta edição, a Marina Monteiro, também analista de formação ténica na BD, encontrou um recorte muito peculiar nos dados do Censo 2022. A parcela da população brasileira que chegou aos 100 anos está crescendo, mas onde vivem essas pessoas e o que significa ter uma população envelhecendo? A Marina usou os dados da maior pesquisa demográfica do país e entrevistou um especialista no assunto para nos ajudar a responder essas perguntas. Somos suspeitos para falar, mas a análise e a entrevista estão muito interessantes. Boa leitura!
📊 Uma boa pergunta
Onde vivem as pessoas que passaram dos 100 anos no Brasil?
Ainda que tenha sido executado com dois anos de atraso, o Censo Demográfico 2022 teve seus primeiros resultados lançados em junho de 2023. Todas as tabelas disponíveis até o momento estão, também, no datalake público da Base dos Dados, facilitando a análise da população brasileira. População essa que, no período da pesquisa, contava com 203.080.756 indivíduos. Veja abaixo a pirâmide etária de 2022 em comparação com a da última edição da pesquisa.
A diferença no formato de nossa pirâmide etária indica um país em envelhecimento. Não só, claro, porque as gerações mais populosas em 2010 seguem envelhecendo, mas porque nossas taxas de natalidade seguem diminuindo.
Neste país em processo de envelhecimento, o que podemos falar do topo da pirâmide? Nessa escala, que é a mais adequada para uma pirâmide etária, mal se vê o topo. Afinal, quantos são os(as) brasileiros(as) com 100 ou mais anos?
No período da pesquisa, o país contava com 37.810 habitantes centenários, representando um aumento de aproximadamente 56% em relação ao resultado apresentado pelo Censo de 2010 (24.233). Esta população representa, por enquanto, menos que 0,02% do total de viventes do país. O curioso dos dados é: estados mais populosos não são, necessariamente, os estados com mais centenários, em números relativos. Veja no mapa abaixo como está distribuída nossa população de pessoas com mais de 100 anos.
A Bahia é recorde na população secular, em números absolutos ou relativos. Cerca de 0,035% de sua população está com 100 ou mais anos, equivalente a 5335 pessoas. Em números absolutos, o segundo lugar é do estado de São Paulo, que fica entre os cinco últimos colocados quando pensamos em proporção quanto sua população total, 0,015% – menos da metade da porcentagem de centenários na Bahia.
Contrariando toda e qualquer intuição sobre o assunto, não são as regiões mais ricas a contar com maior presença de centenários. Proporcionalmente à população total − que é a análise que faz mais sentido, afinal, o sudeste tem uma quantidade de população meio surreal, as regiões Nordeste e Norte são as campeãs na presença de uma população secular. No grafico abaixo fica nítido como o Nordeste se destaca na proporção de residentes centenários.
Essa análise é um ponta pé inicial em um importante debate sobre como nossa população está envelhecendo. Para aprofundar um pouco mais, falamos sobre esse cenário e os dasafios que ele apresenta na entrevista do Trocando Dados desta edição. Convidamos você também, databaser, a enriquecer esse debate e criar suas próprias análises. Explore os dados e não deixe de compartilhar conosco ou marcar @basedosdados nas redes sociais.
#FicaADica: Você pode conferir o código da análise dessa edição para aprimorar e criar novos recortes. Veja o código por aqui.
Pesquisador Associado do Grupo de pesquisa em política, gestão, avaliação e regulação em saúde
Como a análise dessa edição aponta, nosso Brasil está envelhecendo. Mas quais são os desafios que esse cenário traz , o significa para o planejamento de políticas públicas e por que que nosso centenários estão em maior número no Nordeste? No Trocando Dados desta edição, conversamos com Cristian Arnecke Schröder, Pesquisador Associado do GERA, para tentar responder essas questões.
Cristian é Bacharel em Economia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Mestre em Demografia (com ênfase em População e Saúde) pela Universidade de Campinas (UNICAMP), Especialista em Planejamento de Cidades com ênfase em Saúde Pública (DCEC/UESC), Saúde Pública (UniAmérica) e Gestão em Saúde (UniAmérica). Doutorando em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade e São Paulo (FSP/USP). Pesquisador Associado do “GERA: Grupo de pesquisa em política, gestão, avaliação e regulação em saúde: Desigualdades, participação e envelhecimento nos sistemas e serviços de saúde” (FSP/USP), e também integrante do grupo de pesquisa intitulado "Demografia e Epidemiologia da Saúde e Envelhecimento" (IFCH/UNICAMP).
O que significa, para o país, ter uma população envelhecendo? Quais são as preocupações que devemos ter?
Demograficamente, podemos falar que o país está passando por mudanças na estrutura etária, oriundas de um aumento da expectativa de vida (por causa de uma redução da mortalidade infantil e pela maior sobrevivência em idades mais avançadas) e uma redução na taxa de fecundidade, que leva o crescimento populacional a um taxas que estão cada vez menores com o passar dos anos.
Esse processo é um resultado visível de políticas públicas feitas pelo Estado ao longo, principalmente, das últimas três décadas que permeiam desde a questão do saneamento básico até o investimento em tecnologias que proporcionaram crescimento e desenvolvimento econômico para o país.
Contudo, o envelhecimento é uma temática que preocupa, principalmente, pela questão da sobrecarga dos sistemas de previdência (que pode colocar a segurança econômica dos idosos em risco) e também de saúde (pelo aumento do número de pessoas que vivem mais tempo com as Doenças Crônicas Não Transmissíveis), que já começam a ameaçar os orçamentos públicos futuros para a proteção social e garantia de acesso aos serviços por essa parcela populacional.
Quanto aos centenários, quais são as necessidades específicas de políticas públicas para esta população?
A política de saúde brasileira ainda está em um estágio embrionário no que tange o pensar do cuidado às pessoas centenárias. O Estatuto da Pessoa Idosa (que é a principal Lei que fornece as diretrizes de deveres e responsabilidades para/com a população idosa) ainda é incipiente em sua formulação, uma vez que ela foi aprovada no ano de 2003 e desde então, não passou por nenhuma modificação significativa em seu conteúdo.
Uma política que deve-se ficar de olho em sua implementação, bem como, seus desdobramentos, é na Resolução Nº 729, de 07 de Dezembro De 2023 que aprovou a Política Nacional de Cuidados Paliativos, que muito provavelmente será utilizada, também, pela população centenária. Essa resolução prevê não somente uma assistência continuada para a população com saúde debilitada, mas também, prevê toda uma hierarquia de como o modelo de assistência deve funcionar para a inclusão deste idoso. Essa resolução, precisará funcionar em conjunto com outras políticas já vigentes, como a de Previdência Social. Porém, até o presente momento, não se têm muitos detalhes de como eles irão atuar conjuntamente.
Há alguma explicação bem estabelecida para o maior número de centenários na Bahia, quando comparamos os estados, e no Nordeste quando comparamos as regiões?
Não existe uma fórmula especial ou mágica que explique a grande quantidade de idosos com mais de cem anos na Bahia e no Nordeste. É uma junção de fatores que quando misturados, podem trazer este cenário.
Primeiro ponto é que, normalmente, pode-se observar que o crescimento mais elevado do número de centenários na região Nordeste é resultado de suas históricas mais altas taxas de crescimento, em face da alta fecundidade prevalecente no passado (comparativamente à atual) e à redução da mortalidade ao longo do tempo. Assim nota-se que o fato de a pirâmide etária da região Nordeste e do estado da Bahia ser relativamente mais jovem (quando comparadas com estados das regiões sul e sudeste por exemplo) faz com que o número de pessoas que estão envelhecendo mais e melhor, na região Nordeste, acabe sendo maior.
Segundo ponto que pode também explicar, é o fato das políticas públicas de saneamento, saúde e de segurança estarem ocasionando externalidades positivas a essa população que passou a ser mais assistida a partir de 2003 com a ampliação de investimentos em políticas setoriais.
Terceiro ponto é o avanço da medicina que faz com que esta parcela populacional tenha uma sobrevida com doenças crônicas muito maior que antigamente, fazendo com que esses idosos centenários morram com a doença e não em decorrência dela.
💡 Pra ficar ainda mais fácil
Quais endereços da sua cidade foram recenseados para o Censo de 2022?
Com os dados das coordenadas geográficas de eneredeços do Censo 2022 na BD, você pode descobrir com uma simples consulta SQL, e ainda visualizar usando o BigQuery Geo Viz. Duvida? Copie a consulta em nosso repositório de análises no GitHub, adicione o nome da sua cidade e explore.
📌 O que rolou esse mês
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Como começar na área de dados? | Trabalhar com dados é muito empolgante, mas pode ser desafiador saber por onde começar. É por isso que juntamos nossa equipe e dois convidados para compartilhar experiências e dicas sobre como começar na área, o que aprender, como está o mercado e muito mais. Você pode assistir esse bate papo por aqui.
Aprenda a analisar os dados do Censo 2022 | E se a gente dividisse a população brasileira por gerações e suas novelas? Pois bem, foi exatamente isso que fizemos para demonstrar ao vivo como é muito mais fácil trabalhar com os dados do Censo 2022 usando a BD. Confira a live completa por aqui.
RAIS 2022 | Os dados da RAIS 2022 já estão na BD, tratados, organizados e prontíssimos para sua análise. São microdados históricos de estabelecimentos e vínculos empregatícios. Acesse por aqui e compartilhe suas análises conosco. Agora você pode acessar a série histórica com SQL, Python, R ou até STATA. Mas calma, recomendamos criar um bom recorte no BigQuery para economizar tempo e processamento. Quer saber como? Veja nosso tutorial de SQL no YouTube
📡No radar
Os maiores eventos de dados aberto da América Latina | Finalmente chegou a vez do Brasil sediar os dois eventos mais importantes da América Latina relacionados ao tema de dados abertos: o Encontro Aberto para uma Região Aberta (AbreLatam) e a Conferência Regional para Dados Abertos da América Latina e Caribe (Condatos). Os eventos serão organizados pela Controladoria Geral da União em 2024. Veja mais por aqui.
Global Open Data Repository | Você já conhece a plataforma de dados abertos do Banco Mundial? São mais de 20 mil conjuntos de dados abertos sobre desenvolvimento ao redor do mundo, abrangendo diversos temas como saúde, educação, agricultura, meio ambiente e governança. Confira por aqui.
Identificação de infratores ambientais | O Instituto Chico Mendes (ICMbio) passou a disponibilizar em seu site os dados completos de nome e CPF e/ou CNPJ de autuados por infrações ambientais e quem teve áreas embargadas pela autarquia. O objetivo é auxiliar instituições financeiras, organizações não-governamentais e demais setores da sociedade que necessitem consultar informações sobre as áreas embargadas ou dados de autuação ambiental. Você pode acessar os dados na Plataforma de Dados Abertos do ICMbio.
5ª Reunião do Fórum de Governança de Dados | O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) está organizando a 5º Reunião do Fórum de Governança de Dados para apresentar a Estratégia de Dados para América Latina, com representantes do Uruguai e da Colômbia apresentando suas experiências e a proposta brasileira da Secretaria de Governo Digital (SGD). A reunião será transmitida online hoje, dia 19 de abril, às 10h, veja por aqui.
🌎 Databasers
Cristiano Pavini, Analista Sênior na ONG Transparência Brasil, utilizou os dados da BD para produzir um infográfico sobre a distribuição das emendas parlamentares por dois deputados da região de Ribeirão Preto. Para isso, ele cruzou os dados do CNPJ do destinatário final com a base de pessoas jurídicas da Receita Federal. Veja aqui o resultado.
Fez uma análise legal com os dados da BD? Não deixe de compartilhar conosco ou marcar @basedosdados para sua análise aparecer aqui também!