Nesta edição, você vai conferir uma análise inédita sobre a saúde infantil na Amazônia Legal, uma entrevista exclusiva sobre como o jornalismo baseado em dados e evidências tem contribuído para a preservação do meio ambiente, além das nossas novidades e dicas do mês. Boa leitura!
📊 Uma boa pergunta
Os municípios da Amazônia Legal possuem consultórios pediátricos suficientes para atender a população infantil?
A saúde na Amazônia Legal é um tema complexo e desafiador. Com mais de 5 milhões de Km², o território é repleto de áreas remotas e isoladas, o que dificulta bastante o atendimento médico à população. A atenção básica é fundamental para a prevenção de doenças infecciosas comuns da região, como a malária, o cólera e a dengue. Porém, muitos dos municípios da Amazônia Legal são marcados pela escassez de serviços de saúde pública e privada, especialmente os que oferecem atendimento voltado para as faixas etárias mais vulneráveis da população, como crianças e idosos.
Para entender um pouco melhor como é a distribuição do atendimento pediátrico na Amazônia Legal, analisamos os dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), que contém informações acerca de todos os estabelecimentos de saúde do país, além dos dados georreferenciados do geobr, que contemplam uma ampla variedade de conjuntos de dados geográficos. Para identificar também a distribuição da população de crianças de 0 a 14 anos nos municípos da Amazônia Legal, foram utilizadas as estimativas populacionais do Ministério da Saúde. Confira abaixo o mapa com o panorama do atendimento pediátrico no território.
Ao todo, a Amazônia Legal conta com 1.577 consultórios pediátricos distribuídos pelo seu território. Desses, 1.163 consultórios são vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), 73,4 % do total. Porém, vale ressaltar que outros tipos de estabelecimentos de saúde também realizam atendimento infantil, como é o caso das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que buscam atender até 80% dos problemas de saúde da população, sem que haja a necessidade de encaminhamento para outros serviços, como emergências, hospitais ou os próprios consultórios pediátricos.
Os consultórios pediátricos são espaços de acolhimento e manutenção da saúde da criança, onde são realizadas a promoção de saúde e a prevenção de doenças. Esses estabelecimentos oferecem atendimento para diversos tipos de casos relacionados à saúde infantil, como infecções, doenças e deficiências ligadas a um órgão, tumores, ferimentos e doenças relacionadas à estação do ano e clima.
Entre os municípios analisados, Marabá, no Pará, foi o que apresentou a pior cobertura, com uma população de cerca de 77 mil crianças e nenhum consultório pediátrico disponível. Por outro lado, Belém do Pará, capital do estado, conta com 95 consultórios para o atendimento de suas 283 mil crianças, ou seja, são cerca de 2,9 mil crianças para cada consultório. Além de ser o município com a melhor cobertura de toda a Amazônia Legal, a proporção entre o número de consultórios e de crianças do município é maior que a do seu próprio estado, que possui 4,8 mil crianças para cada consultório, aproximadamente.
Que tal utilizar o código dessa análise para criar seus próprios recortes, explorando a distribuição de outros tipos de estabelecimentos de saúde ou outras regiões brasileiras? Todos os códigos de nossas análises estão disponíveis em nossoGitHub.
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Jornalista de dados ambientais e fundador do Ambiental Media
Organizações de imprensa e jornalismo de dados têm ganhado protagonismo no debate sobre dados abertos e na construção de conhecimento para aproximar a população de informações de interesse público. É o caso da Ambiental Media, iniciativa de jornalismo, ciência e inovação que desenvolve visualizações de dados, reportagens, artigos jornalísticos e relatórios sobre a questão ambiental no Brasil.
Hoje trocamos dados e um bom papo com o Thiago Medaglia, fundador da Ambiental Media, para entender melhor o papel da imprensa no cenário da transparência pública e como a produção de conhecimento a partir de dados e evidências tem contribuído para a preservação do meio ambiente. Além de jornalista e escritor, Thiago foi editor na revista National Geographic Brasil, onde ainda é freelancer, bolsista do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, 2015), pós-graduado em Jornalismo Empreendedor pela City University de Nova York (Cuny, 2016), palestrante nas duas últimas edições da Conferência Mundial de Jornalistas Científicos (WCSJ, 2017 e 2019) e Bolsista Knight do Programa de Jornalismo Científico do MIT 2020.
Sabemos que a disponibilização de dados ambientais de forma acessível é fundamental para pesquisa e elaboração de políticas públicas. Como você avalia hoje o cenário brasileiro nas práticas de governo aberto para o amplo acesso a essas informações e como organizações jornalísticas como a Ambiental Media têm contribuído para esse cenário?
Com relação ao acesso a dados públicos, nós vivemos um retrocesso muito grande nos últimos anos. Um exemplo disso foram os dados relacionados ao Covid-19 e à pandemia, que foram organizados por um consórcio de veículos de imprensa, por conta do atraso na divulgação pelos órgãos governamentais. Apesar do retrocesso e do grupo político que não tem uma simpatia pela democracia, podemos dizer que existe hoje uma consciência maior no poder público sobre a necessidade da transparência e amplo acesso a dados públicos.
Nesse cenário, o papel do jornalismo e a união de forças entre jornalistas e cientistas têm se mostrado muito importantes para o acesso à informações públicas. É o caso de iniciativas como a Abraji, a Fiquem Sabendo, a InfoAmazônia e a própria Ambiental Media. O jornalismo de dados vem fiscalizando e tornando as ações do poder mais transparentes e acessíveis à população.
A Ambiental Media tem construído conhecimento valioso através de dados e evidências, como é o caso do desenvolvimento do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA). Qual a importância desse trabalho para a elaboração de políticas em favor do meio ambiente?
Hoje, a disponibilidade de acesso a determinados dados e informações molda o debate público. Qualquer opção ou recorte que fazemos na produção do conhecimento acaba excluindo outras vertentes possíveis e que também são importantes. Um bom exemplo é o protagonismo da questão do desmatamento e dos incêndios no debate público e na imprensa. Além da predominância do olhar para a Amazônia, em detrimento de outros biomas como, por exemplo, o Cerrado, outros aspectos importantes para o meio ambiente são deixados de lado. É o caso da questão da água. Quando a gente fala sobre cobertura jornalística, existe um clamor muito grande pela questão do desmatamento, incêndio e pela questão indígena e social. Tudo isso é extremamente relevante. No entanto, a Amazônia também é a maior bacia hidrográfica do planeta e a maior parte disso está no Brasil. Isso se relaciona, inclusive, com as alterações climáticas, envolvidas em eventos climáticos extremos, como o que acabou de acontecer no litoral de São Paulo.
Apesar deste ser um tema gigantesco, não existe um monitoramento sistematizado e com dados disponíveis, publicados de maneira regular e por um órgão público, como existe para a questão do desmatamento. Por isso, procuramos oferecer uma perspectiva diferente, observando de que forma as atividade humanas estão impactando os ecossistemas aquáticos da Amazônia, qual o tamanho desse estrago, onde ele está localizado, do que ele é composto e quais são os fatores de pressão. Isso é fundamental para que a sociedade civil consiga colocar pressão no governo.
💡 Pra ficar ainda mais fácil
Quantas Unidades Básicas de Saúde (UBS) existem na sua cidade? Pela BD é super fácil descobrir. Você pode usar a consulta SQL abaixo para descobrir a quantidade de UBS em qualquer município brasileiro, ou ainda adaptar a estrutura da consulta para explorar dados de outros tipos de estabelecimentos de saúde com o conjunto do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
Precisa de uma ajuda para começar a analisar dados com SQL? Preparamos um tutorial com os primeiros passos em nosso canal do YouTube. Confira.
📌 O que rolou esse mês
Siga o Dinheiro | Sabia que a BD também desenvolve análises e painéis de dados com organizações parceiras? Em parceria com o JOTA, construímos o painel interativo Siga o Dinheiro, que auxiliou população e imprensa no monitoramento das despesas e receitas de campanhas das eleições de 2022. Veja mais noestudo de caso.
Comunidade | Criamos uma nova organização em nosso Discord que vai facilitar a interação e estimular a troca de conhecimento. São novos canais e categorias pensados para organizar ainda melhor as propostas, contribuições e dúvidas de toda a comunidade. Confira.
Analisando dados de educação no R| Para celebrar o Open Data Day 2023, organizamos um workshop sobre como usar o pacote R da BD para criar visualizações com os principais conjuntos de dados educacionais do Brasil. Ele está disponível em nossocanal do YouTube.
📡No radar
18º Congresso de Jornalismo Investigativo | A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) recebe até hoje (16/3) sugestões para a programação do maior encontro de jornalistas do país, o Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Você pode inscrever poraquiideias de palestras, cursos, oficinas e palestrantes para o evento, que acontece entre os dias 29 de junho e 2 de julho em São Paulo.
RepLAI | A Abraji e a Transparência Brasil desenvolveram uma nova ferramenta para auxiliar jornalistas e pesquisadores em seus pedidos de Lei de Acesso à Informação. O chatbot RepLAI usa inteligência artificial para analisar pedidos LAI e mostra quais os possíveis tipos de negativas dadas pelo órgão público, além de mostrar um texto base para adaptação e composição de um recurso a essa resposta negativa.Confira.
Desigualdades no funcionalismo público | O instituto República.org lançou no dia das mulheres um estudo sobre a burocracia representativa e as desigualdades salariais de mulheres no Brasil e no mundo. O estudo utiliza dados e visualizações para criar um panorama sobre o assunto.Confira.
🌎 Databasers
Arthur Ferreira Reis, pesquisador na Universidade Federal do Espírito Santo, utilizou dados do Saeb 2021 pela BD para analisar e comparar as notas das médias municipais das escolas estaduais de ensino médio com as médias de municípios que tiveram mais de 100 inscritos concluintes de escolas públicas no ENEM. Confira por aqui os insights que ele extraiu desses dados.