Nesta edição, você vai conferir uma análise inédita com os dados dos registros dos servidores públicos civis do poder executivo federal, que já estão fresquinhos em nosso datalake público. Temos também uma entrevista exclusiva sobre o uso da BD em sala de aula, além das nossas novidades e dicas do mês. Boa leitura!
📊 Uma boa pergunta
Como é a representatividade nos cargos de confiança dos órgãos federais brasileiros?
Embora sejam mais da metade da população brasileira – 51,7%, de acordo com a PNAD Contínua –, as mulheres ainda ocupam menos cargos nos órgãos superiores do que homens. A população negra, que soma 56,3% dos brasileiros, também não encontra uma representação proporcional nesses cargos. Apesar da maior diversidade de raça e gênero não ser uma garantia de que as pessoas ocupantes de cargos de confiança irão buscar o avanço na conquista de direitos igualitários e acesso a oportunidades, ter uma composição mais representativa nos cargos comissionados certamente contribui para essas pautas.
Um bom indicador da representatividade no governo pode ser o perfil de gênero ou raça das pessoas que ocupam cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS), principais cargos comissionados do poder executivo federal. Podendo ser ocupados tanto por servidores(as) de carreira ou não e serem de livre nomeação e exoneração, os DAS são divididos em níveis de 1 a 6. Os níveis 1 e 2 estão relacionados a atividades operacionais; o 3 engloba coordenador(a); o nível 4 inclui coordenador(a)-geral; o 5 se refere a diretor(a) e o 6 a secretário(a) nacional ou presidente(a) de fundação.
Através dos dados de Sistema Integrado de Administração de Pessoal, obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) e disponibilizados pela equipe da BD, conseguimos observar como é o cenário da representatividade nos cargos DAS de diferentes órgãos do governo federal. Foram mais de 300 mil observações obtidas através do Ministério da Economia, contendo dados de 2022 com informações sobre o funcionalismo público federal de acordo com o órgão em que o indivíduo está lotado, gênero, raça/cor declarado, além da atividade que exerce dentro de sua função. Contudo, vale ponderar que os dados não contemplam o preenchimento completo de todas as variáveis.
Dentre os órgãos presentes no gráfico, apenas três possuem em sua composição uma porcentagem de mulheres igual ou superior à da população. Com apenas oito cargos DAS, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) é o órgão federal com maior proporção de mulheres em sua composição, com seis ocupantes de cargos de confiança. Em seguida, está o Ministério de Minas e Energia (MME), que apresenta 55,5% de mulheres entre seus 182 cargos ocupados. Dos 511 cargos DAS do Ministério da Educação (MEC), 52,4% são ocupados por mulheres.
Por outro lado, a Defensoria Pública da União (DPU) é o órgão com menor representatividade de gênero e raça em sua composição. Em seus onze cargos, há apenas duas mulheres e uma única pessoa negra exercendo funções de confiança. Nenhum dos órgãos apresentados no gráfico possuem uma porcentagem de pessoas negras igual ou superior à população, embora o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) seja o que fica mais perto, com 52,9% de pretos ou pardos dentre seus 85 integrantes.
Vale lembrar que o tratamento e disponibilização dos dados do Sistema Integrado de Administração de Pessoal na BD foram fruto da parceria com a Fundação Lemann, organização que trabalha para garantir educação de qualidade para todas as crianças brasileiras e apoia líderes focados no desenvolvimento social do Brasil. Você pode conferir os detalhes do trabalho empenhado na parceria por aqui.
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Professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Tiradentes (Unit)
Ao longo dos anos, temos observado que a BD se tornou uma ferramenta incrível para auxiliar na formação de futuros profissionais da área de tecnologia e informação. Seja para começar a praticar a análise de dados com informações de cenários reais através de indicadores brasileiros, ou para construir um portfólio
colaborando com um dos maiores projetos open source do país, a BD tem sido um espaço de aprendizado e impulsionamento de carreira para várias pessoas.
Conversamos com o Adolfo Guimarães, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Tiradentes (Unit), em Sergipe, que compartilhou um pouco da sua experiência utilizando a BD em sala de aula para trabalhar a análise descritiva dos dados com seus alunos. Adolfo é mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e desenvolve projetos de pesquisa na área de Aprendizagem de Máquina e subárea de Processamento de Linguagem Natural. Além de professor, atualmente atua como colaborador do Grupo de Pesquisa Ludii.co na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e é membro do Grupo de Pesquisa GPITIC da Unit.
Para nós é uma alegria ver a BD ser utilizada em sala de aula. Você poderia contar um pouco sobre as situações em que nosso datalake público foi útil e como foi a experiência?
Atualmente, sou professor da disciplina de Machine Learning e o foco no início da disciplina é trabalhar a análise descritiva dos dados. Esse ano resolvi utilizar nesta etapa dados do datalake público da BD, principalmente pela variedade de bases abertas e a facilidade no acesso aos dados de forma organizada, o que agiliza na hora de escolher quais dados trabalhar em sala de aula.
Para a atividade específica da disciplina utilizei a base da ANATEL que traz informações sobre os acessos à banda larga fixa no Brasil. Neste caso, fiz um recorte do estado de Sergipe e pedi para que os alunos analisassem os dados e trouxessem informações sobre a distribuição da banda larga no estado. A experiência foi muito boa. Como a base tem um histórico desde 2007, isso permite que os alunos façam uma análise atual, mas também histórica de como o serviço de banda larga mudou ao longo dos anos. Isso casa bem com o objetivo inicial da disciplina e eles conseguem aplicar o conteúdo visto em sala de aula em uma base real.
Outra vantagem que enxergo em utilizar o datalake da BD, é a possibilidade de combinar com outras bases. Neste caso, trouxe também os dados do diretório municipal para que eles pudessem casar os dados com os municípios e fazer a análise a partir da distribuição desse tipo de serviço no interior do estado.
Qual a importância de estimular o acesso a dados públicos na formação de pessoas?
Acho importantíssimo trazer esse tipo de dado para dentro da sala de aula. Estamos falando de alunos que estão em formação, mas essa formação não precisa se limitar à formação tecnológica. Ao propiciar esse tipo de acesso, estamos apresentando a esses alunos maneiras de como usar a tecnologia como ferramenta de inovação cívica, utilizando o conhecimento tecnológico que eles aprendem em sala de aula para analisar dados públicos e criar mecanismos que permitam à sociedade acompanhar e fiscalizar o bem público.
Você pensa em trabalhar com dados da BD em outras atividades em sala de aula?
Essa foi minha primeira experiência com a BD em sala de aula e já planejo estimular outras formas de uso. Como foi a primeira, eu mesmo fiz o recorte dos dados e já trouxe os arquivos prontos para ele. Para outras atividades pretendo deixá-los livres para explorar o datalake e escolher quais bases utilizar, quais análises pretendem fazer e quais dados pretendem relacionar. Acredito que há espaço para várias interações dos alunos com a BD não só na disciplina de Machine Learning mas em outras da formação deles.
💡 Pra ficar ainda mais fácil
Você já usa a nossa base de Diretórios Brasileiros para facilitar sua análise? Ela cria relações entre entidades para facilitar o cruzamento de tabelas de diferentes conjuntos de dados. Cada tabela desse conjunto representa uma entidade do nosso datalake público, como UF, município, escola, distrito, setor censitário, categorias CID-10 e CID-9, CBO-2002 e CBO-1992, dentre outras.
Veja um exemplo prático: Para identificar a variação da inflação de alimentos e bebidas nos últimos 12 meses em cada estado e Região Metropolitana do Brasil, podemos cruzar os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) e a tabelaregiao_metropolitana do conjunto de Diretórios Brasileiros.
Confira a seguir a consulta e o resultado:
📌 O que rolou esse mês
Eleições 2022 | Para mostrar como é muito mais prático analisar dados eleitorais pela BD, João Carabetta e Arthur Fisch analisaram ao vivo dados de resultados, candidatos e das prestações de contas das eleições. Você pode conferir o vídeo na íntegra por aqui.
Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados | Os veículos G1, Núcleo Jornalismo, Ambiental Media e InfoAmazonia foram os ganhadores da 4ª edição do Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, iniciativa da Escola de Dados da Open Knowledge Brasil, em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Transparência Brasil. A premiação aconteceu presencial neste domingo (7), durante o CODA 22. Confira as iniciativas vencedoras por aqui.
Programaria Summit 2022 | A Programaria, iniciativa que busca incentivar a diversidade de gênero no campo da tecnologia, está com inscrições abertas para a conferência “Programaria Summit 2022”. O evento é híbrido e é focado para mulheres trans e cis e pessoas fora da cisheteronormatividade que já trabalham ou estão inseridas na tecnologia e que querem alavancar suas carreiras. Veja como participar por aqui.
🌎 Databasers
Macena Yukio, estudante de economia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), usou a BD para cruzar dados entre fontes que usam diferentes códigos municipais em sua análise. Isso é possível por conta dos nossos diretórios brasileiros, que ligam diversos códigos institucionais de entidades do país.